Desde que os americanos colocaram no banco dos réus os alimentos ricos em carboidratos, tidos como os grandes culpados pelo aumento da obesidade, as prateleiras dos supermercados foram inundadas por produtos low carb – em português, aqueles que contêm baixo teor de carboidratos. São salgadinhos, pães, massas e até doces com menos carboidratos do que na versão original. O problema é que poucos, muito poucos, conseguem se manter fiéis a esse tipo de dieta. Impossível resistir ao sabor de um prato de massa de verdade, com toda aquela quantidade de carboidratos. Abriu-se, então, o caminho para mais um modismo – americano, é claro, mas que já começa a ganhar adeptos no Brasil: o dos suplementos naturais chamados interceptadores de carboidratos, à base de feijão-branco. Cápsulas ingeridas pouco antes da refeição seriam capazes de diminuir, e em alguns casos até impedir, a absorção de carboidratos pelo organismo. O processo se daria da seguinte forma: ao chegarem ao intestino, duas enzimas se encarregam de transformar o carboidrato em glicose, fonte de energia para células e músculos do corpo. Em excesso, a glicose que resulta da digestão desses alimentos é estocada sob a forma de gordura. Ou seja, engorda. Ao bloquear a ação da alfa-amilase e da alfa-glicosidase, os nomes das duas enzimas, seria evitada a quebra de moléculas de amido e açúcar (dois grupos de carboidratos), que passariam incólumes pelo organismo. Segundo o fabricante do Carb Intercept, um dos suplementos mais consumidos, existem estudos que mostram que apenas 15% do carboidrato contido numa fatia de pão, por exemplo, é absorvido pelo organismo. O resto seria totalmente eliminado.
O princípio de ação dos interceptadores de carboidratos naturais, apregoado por seus fabricantes, é muito parecido com o da acarbose, o primeiro medicamento alopático a retardar a digestão e a absorção de carboidratos e açúcar comum. Sob o nome comercial de Glucobay, o remédio é indicado apenas para os diabéticos. Ao reduzir a ação da alfa-glicosidase no intestino, a acarbose livra o diabético das altas concentrações de glicose no sangue após as refeições. Inicialmente, os pesquisadores que desenvolveram a molécula sintética do Glucobay direcionaram seu trabalho para criar um medicamento contra a obesidade. Os testes com a substância, contudo, não confirmaram seu efeito emagrecedor – ela controla a ação da alfa-glicosidase, mas não a bloqueia. Nos Estados Unidos, o Carb Intercept não tem o aval da FDA, a agência americana que controla a venda de alimentos e remédios. Por isso, os médicos não arriscam indicar o produto para quem deseja empanturrar-se de carboidratos e, ainda assim, não fazer feio na balança. Mas quem toma as cápsulas de feijão-branco relata que, depois de ingerir o suplemento, um prato de espaguete desce levinho, levinho. Assim é se lhe parece.
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